domingo, 19 de abril de 2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Estima deslocada.

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Como pode-se lamentar o que não fora vivido?
Como pode-se pensá-lo se não experenciado?
Nenhum mérito terceiro.
Afetos endereçados.


Míriam Machado
15-04-09

terça-feira, 14 de abril de 2009

Dosoprimir e nada a mais.

Eu preciso de um colo de alguém que não esteja nem aí pra mim.
Um arrimo onde eu possa minhas mazelas abandonar.
E levantar dali com o nada.
E desprender...
Descolar.

14-04-09

Míriam Machado

domingo, 12 de abril de 2009

Partilha.

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A esperiência da vida não é mesmo fácil. Nunca ouvi ninguém dizer que fosse.
Nunca ouvi...
E nessa hora instável eu tenho uma circunferência muito confortável que me recebe e apazigua. Uma atmosfera cheia de histórias, incoerências, desacertos/acertos, vitórias, cheio de processos...
Lugar de movimentos que nem sempre são os meus, mas que comigo são divididos. Ambiente de escutas e dizeres sobre "coisas".. Qualquer coisa! Desatinos, sonhos, real, particular, o inassimilável.
Lugar às vezes... De nada dizer...
Extensão de viver.
Um canto rico.
E eu me considero afoturnada a toda vez que me lembro de que tenho alguns destes círculos para estar.
Com a palavra, presença, a real percepção de acolhimento.
Pode ser em qualquer espaço, mas o lugar... Ah, esse lugar não é qualquer um.
O lugar que posso chamar de meu.
Como a todos presentes, também podem chamar de seus.
Sim... Uma lacuna democrática.
Lugar porque não há quem se sinta deslocado nele. Então é realmente um lugar.
Não dá para saber o que se passará nele.
Mas pode-se ter a certeza de que tal encontro será perfeito com todas as imperfeições.
E já posso dizer. É possível e tem que ser assim.
E o que o torna fidedigno é o ato de experienciá-lo em todas tuas possibilidades.
Mesmo quando algumas delas sejam precárias.
Me refiro ao lugar/presença de se estar entre amigos. Um bate-volta. Toma lá da cá. Não tem erro.
E eu realmente me surpreendo comigo. Felicito-me mesmo por dispôr de uma naturalidade para fazer amizades... Dentre essas, alguns amigos se tornam.
E quando o mundo nos parece cair... Bem inclinado, bem inclinado..
As vezes, escuro... Negrume...
Ensurdecedor... Atordoante.
Eu sei.
Porque o saber é seguro.
Eu sei que posso contar com esse intervalo... Campo de afetos. De alguém ali...
Não importa onde, a forma ou quando... E que não se faz apenas com a presença física, mas com a estima que trata.
Aquele lugar que lhe encostam sem necessariamente ser através do toque corporal. Alguém olhando por você não necessariamente através da presença. Mas um lugar de referência, mesmo que através da lembrança.
E neste âmbito pode-se dizer sobre tudo ou sobre nada.
Um lugar de paz ou de tormentos. Mas vivo.
Seguro por poder contar com ele.
E eu digo isso...
Digo isso porque eu entendo e reentendo a toda hora que me apresentam...
Esse papel de amigo que se apresenta a mim quando a vida dói.
E me acalmam...
Com seus exemplos.
Continuando.... Continuando...
É possível então lembrar-me de que não estamos sós.
E de repente eu posso pensar que o sofrimento é mais frio quando há a sensação/percepção de solidão.
A cada vez que a dor chega grande... E mal dá para levantar e olhar pra frente...
Quando muito confuso... Sem saber onde as coisas começam ou terminam...
Quando muito frágil... Delicado por demais... As vezes impossível de explorar, exteriorizar..
Sempre se é possível renovar as esperanças quando estes amigos desejam por você, quando você mesmo já nem sabe se pode fazê-lo.
Esse é um lugar seguro.
O vão das relações.
Ninguém falou também que este seria simples.... E sem turbulências.
Mas também ninguém negou que contar com ele é uma fortuna.
Impagável.
E o milagre se dá.
Constato. Revejo a vida nos tropeços. Os amigos me proporcionam essa consciência a toda hora. De que toda dor é uma sensação diante do inexplicável naquele momento. E parar nela seria uma resistência a adaptação e transformação.
Então, me trazem a lembrança de que o momento é de preparar-se um tanto mais. Aprender um tanto mais.
E quando a gente consegue, o milagre fecha o círculo. Compartilhar com os mesmos seguido da sensação de plenitude...
Se destaca o grande papel dessa presença que não consigo descrever com outra palavra: amigo.
Lembro-me que nem a dor, nem a alegria intensa alcança sua glória se não temos com quem compartilhá-la.
E essa minha constação se dá a todo encontro meu com esses meus apreços.
A vida não apresentou-me uma outra forma de sentir tamanho desfrute.

Míriam Machado
12-04-09