sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ainda bem que... agora.


A que hora mais poderia me interessar?


Nada de humano encontro em mim...
Mas afronto-me com a possibilidade de perceber-me diante de um outro, o que devo considerar uma sorte.
E o relampejo de uma saudade do que meus olhos vêem nesse mesmo outro, mostram-me que ainda há tempo.
Lembra-me de que ainda é possível.
E se por um lado me percebo realmente não tão humana, por todos os outros comprovo que certamente viva.
Essa percepção se dá também agora...
E isso é mais do que uma sorte.
É a constatação do valor do meu humano, diante da falta do mesmo.
Essa... Uma sinalização do caminho de volta.
Um fenômeno, um portento.
Ainda bem que se não ontem...
Que possa ser agora.

Míriam Machado
26 de Fevereiro e 12 de Março de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sem... Com...

Está escorrendo tristeza.
Está escorrendo...
Já fazia tempo...
Chegou sozinha... Sozinha porque quis.
Essa é mesmo a sua escolha, sozinha por desejo.
Desejo de ser.
Que seja sem.
Assim mesmo, sem...
Toda faltosa.
Sem crer, mas sem duvidar.
Sem poder, mas não sem força para continuar.
Sem nome, mas não no anonimato.
Sem descanso, mas sem exaustão.
Sem clareza, mas não sem discurso.
Sem nada e por isso mesmo com tudo.
Sem fome, e por isso mesmo ciente do sabor.
Sem sono, mas por algumas horas, preenchida de sonhos-metáforas pesadas.
Sem riso e também sem lágrima.
Sem calma, mas também sem pressa...
Assim...
Sem...
Com....
Sem sobra, mas não na falta de...
Porque na verdade, essa tristeza...
Não se diz na continuidade da exatidão.
Ela chegou e ficou.
Pode ser qualquer coisa, tanto faz!
Pode ser o que quiser e o que, não quiser.
Nada faz, que seja!
Porque alguém me disse...
As vezes... Muitas vezes... É preciso fazer nada... Entendendo que fazer nada é estar fazendo alguma coisa.. A sua coisa...
Um nada pelo tudo.
E quando toda ela acabar de escorrer.
Depois de enxuta deixar-me...
Ao invéz de um "es"...."cor".... "rer"....
Cor esta, que pode ser algo bem definido ou, todas as indefinições perdidas.
Essa tristeza que caiu sobre esse corpo e sem expressão, ocupa-se de fazer nada...
Jogada sobre o sofá...
Agora trata.
"Es... Cor... Rer..."
E ao invés dessa cor passada andar pra trás...
E toda essa tristeza lavar-me e deixar-me limpa outra vez..
Uma cor atual voltará a aparecer...
Um presente futuro poderá então caminhar...
Ou..
Voar.

Míriam Machado