sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sem... Com...

Está escorrendo tristeza.
Está escorrendo...
Já fazia tempo...
Chegou sozinha... Sozinha porque quis.
Essa é mesmo a sua escolha, sozinha por desejo.
Desejo de ser.
Que seja sem.
Assim mesmo, sem...
Toda faltosa.
Sem crer, mas sem duvidar.
Sem poder, mas não sem força para continuar.
Sem nome, mas não no anonimato.
Sem descanso, mas sem exaustão.
Sem clareza, mas não sem discurso.
Sem nada e por isso mesmo com tudo.
Sem fome, e por isso mesmo ciente do sabor.
Sem sono, mas por algumas horas, preenchida de sonhos-metáforas pesadas.
Sem riso e também sem lágrima.
Sem calma, mas também sem pressa...
Assim...
Sem...
Com....
Sem sobra, mas não na falta de...
Porque na verdade, essa tristeza...
Não se diz na continuidade da exatidão.
Ela chegou e ficou.
Pode ser qualquer coisa, tanto faz!
Pode ser o que quiser e o que, não quiser.
Nada faz, que seja!
Porque alguém me disse...
As vezes... Muitas vezes... É preciso fazer nada... Entendendo que fazer nada é estar fazendo alguma coisa.. A sua coisa...
Um nada pelo tudo.
E quando toda ela acabar de escorrer.
Depois de enxuta deixar-me...
Ao invéz de um "es"...."cor".... "rer"....
Cor esta, que pode ser algo bem definido ou, todas as indefinições perdidas.
Essa tristeza que caiu sobre esse corpo e sem expressão, ocupa-se de fazer nada...
Jogada sobre o sofá...
Agora trata.
"Es... Cor... Rer..."
E ao invés dessa cor passada andar pra trás...
E toda essa tristeza lavar-me e deixar-me limpa outra vez..
Uma cor atual voltará a aparecer...
Um presente futuro poderá então caminhar...
Ou..
Voar.

Míriam Machado

2 comentários:

  1. Mírian...
    Que coisa linda! Essa tristeza...
    Não sei pq as pessoas não conseguem enxergar beleza na dor... É a primeira vez que vejo alguém definir a tristeza além de lágrimas derramadas... Só saberá o valor de ser feliz quem já tiver sido triste , um dia!!!
    Obrigada por me "presentear" com tanta sensibilidade, sempre!!!
    bjs

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  2. Um dia...
    alguém me lembrou que meu poetar vinha acompanhado de melancolia.
    Nunca consegui sorrir antes de imaginar a dor das perdas.
    Sorrir consciente do que se pode suportar na ausência... do outro, de si.
    Talvez seja uma forma de arrancar as raízes da árvore sem ter que sair do ninho.
    O problema é quando nos podam e precisamos vez essa dor de fora,
    por cima, sem poder fazer rimas e ainda assim sorrir.
    Toda perda é sentida antes de viver.
    Toda ela é melancólica;
    E toda a vida é como essa árvore que se arranca da Terra e vai com o vento
    ou se permite ser podada. (Janice Pires)

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