terça-feira, 12 de abril de 2011

Ah, Rio....

O  dia espreguiça...
A frente,  percurso plano e vasto.
O rio é o destino.
O rio...


Nas mãos, carrego baldes vazios.
No percurso, o som do nada.
A pretensão é simples...
Encher os baldes.

Já nas margens,  agachada frente  as tais  águas frias...
Mergulho nas  transparências ,  esses metais cinzas,  na satisfação de  ter-me a disposição, o  que me limpa ... mata a minha sede... e prepara-me um  alimento.

As latas submergem às aguas,  com as mesmas,  fugindo-lhe aos cantos.
Deparo-me com furos.
O balde não se enche.
Não se enche...

Debato-me para resolver a urgência.
Não há tanto tempo para que eu  possa retornar  a casa, buscar panelas, desenvolver o percurso, retornar ao rio.
Já seria noite nesse instante.

Prontifico-me.
Aventuro-me a me despir de roupas , de ideias, de saberes até então adquiridos, de crenças  ou medos.
Adentro ao rio.
Mergulho.
Lavo a minha pele, minhas vestes,  minha alma.
Refresco meus transtornos.
É assim que sinto e dou graças....
Esfrego-me de todo pó, confusão e do não saber.
Renovo-me para uma nova experiência.
Qualquer uma, desde que  desejante .

Bebo  a água transparente e fresca.
Mato assim a minha sede.
Hidrato o meu corpo.
Renovo o meu fôlego.
Reservo-me a temperatura.
Agora sou rio também.......

Sobre as minhas pernas, costas e braços, passam-me outras vidas.
Estico as mãos e as toco.
Elas matarão a minha fome.
Carnes brancas...
Brancas.
Agarro-as entre dedos e unhas.
Sinto a sua falta abaixo do meu peito.
Meu estômago me diz sobre a sua ausência.
E dói.

A carne_escama   se debate frente aos meus olhos.
Serei eu ou ela.
Obstinada decido... Serei eu.
Carrego- a  apressadamente para a terra.
E é sim com os meus  dedos que a preparo e sustento-me...
Torno assim tais carnes brancas,  partes de mim...
Agora sou branca também...

Saciada, sento-me entre matos e pedras.
Assisto o rio correr por horas...
Tudo que eu penso nesse momento de voltar pra casa é...
Posso estar com esse rio  assim........
Indo e vindo.
Não poderei levá-lo comigo...
... Como quem carrega malas_baldes.
Tudo que posso é renovar a experiência, provocando uma osmose nossa,  a cada novo encontro.
Nesse próximo intervalo, ele não será mais o mesmo.
Eu também não.


Deixarei assim esses baldes pra trás.
Voltarei amanhã sem pretensões de enchê-los.
Este foi o deleite que os furos me proporcionaram.
Agora , sem pesos nos percursos, foi-me apresentada a perspectiva de um outro encontro.
Em um intervalo próximo, tornar-me-ei    branca com as carnes do rio.....  
Água com as águas do rio....
Uma química homogênea....
E tudo que torço é que não exista  uma  seca..
Ou que a seca...não aja.




Míriam Machado
12 de Abril de 2011.













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