quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Se hoje eu fosse lhe dizer (Texto reescrito em 04 de Fevereiro de 2009)

Diria para estar presente como um presente, para que todos tenham o desejo de desembrulhar.
Eu diria a você que se necessário lhe fosse objetivar, o fizesse com uma balinha, quem sabe uma Chita?
Sim. Bem simples assim.
Eu diria a você, que chegasse ao outro nas horas inesperadas, como algo preparado, escolhido e cheio de atenção.
Sim, eu diria a você, para segurar em suas mãos, não deixasse se perder , porque toda perda é sofrida quando não se trata de uma escolha...
Eu diria para comemorar suas relações todos os dias, de uma maneira simples, com um “uhuuuuu” que fosse..
Diria para perguntar como o outro está, sem necessariamente precisar saber da vida dele e definitivamente não ser invasivo. O outro lhe contará de sua própria vida quando desejar. Não serão necessários questionamentos fora de contexto.
Perguntar como o outro está, apenas para seu próximo sentir que você se importa. Esse é um carinho rico.
Se eu fosse lhe dizer, diria para deixar os rótulos para aqueles que não se sustentam sem um. Diria a você que podes ir além dos mesmos. Que és capaz, mesmo sem conhecimentos científicos, sem bases teóricas, aprofundar-se em cada experiência, em cada vivência, lembrando que cada uma é uma, e poderás ouvir a cada pessoa com a sua singularidade.
Diria para não julgar as experiências de teu próximo com base no seu sexo, em sua idade, atitude, dor ou erro.
Diria para lembrar-se que as pessoas não são partes. Diria para olhar para elas como um todo, inteiras.
Sempre se é possível escutar mais e tentar compreender a idéia de seu companheiro. Se nada compreender ou concordar, é bacana a possibilidade de expôr sua percepção, se você for consultado. Ainda assim, aceitando que ele siga seu próprio percurso.
Se eu fosse lhe dizer...
Lhe lembraria que o fato de alguém desabafar com você, não quer dizer que ele esteja querendo saber o que você pensa, ou que ele deposite em você, a decisão de seus novos atos.
Eu diria para oferecer seu tempo e sorrir sempre, mas oferecer-se exatamente na hora que tudo for mais difícil para o outro.
Eu diria para ser sincero. E quando em algum momento, se envergonhasse dos teus sentimentos, ainda assim, dissesse a respeito com toda a consideração que o outro merece. Mas jamais se escondesse nas falas, para que o outro não percebesse em teus esconderijos que não estás sendo tão verdadeiro. A não verdade pode machucar mais do que ela própria e dita. E nesse lugar tudo pode se perder sem estrada para voltar.
Eu diria para você dizer a verdade.
Contar sobre suas limitações e não fingir não tê-las.
Se eu pudesse fazer-lhe escutar.
Eu diria para que fosse companheiro, parceiro. Simplesmente diria para ser ouvinte, sem se colocar no lugar de quem sabe o que é melhor para o outro. Você não sabe. Talvez, muitas vezes, pode perceber o que faz mal ao teu próximo, mas não sabe o que é melhor para ele. Lembre-se que muitas vezes, não sabe nem o que é melhor para você! E esse percurso de descoberta é duro... E solitário.
Diria para não aconselhar e apenas procurar entender o que o outro diz, porque o que o outro diz, pode e muito provavelmente não fará sentido para você. Mas ainda assim, você pode escutar e entender que é apenas a forma no qual ele se entende naquele momento, o desenho no qual, ele se percebe.
Diria para ter cuidado com as opiniões. As dê, quando lhe forem pedidas, lembrando simplesmente que sua experiência não é a verdade do mundo e que a experiência do outro deve ser respeitada, logo, seja neutro, seja compreensivo e equilibrado. Se acreditar não conseguir isso, se permita ficar em silêncio, usando de sabedoria por dizer que também não tem um saber que talvez pudesse ajudar.
Diria para escutar sem temer.
Quando o outro fala dele, não está tirando nada de você.
Ele não está lhe impondo nada. Apenas escute.
Tome um distanciamento.
E durante todo o tempo, olhe para ele. E diga-lhe que ele não está sozinho nesse mundo que ele crê estar só e que você estará sempre ali para que ele se lembre disso.
Diria a você que não é preciso mais do que isso. A vida passa e quanto dela você perdeu simplesmente porque não soube ouvir? Não se deu conta de que não era necessário contextos afortunados ou festas demais.
Eu diria a você sobre ser educado. Não tomasse para si o que não te pertence. A vida do outro, é do outro. Não queira vivê-la como se fosse tua.
Diria para ser confiável. Que não distribuísse as falas que lhe foram ditas, desabafo sofrido em tom de confissão e para todos a tua volta, espalhasse tais dores, para se fazer diferente daquilo, que possivelmente você não conseguiu assimilar.
Diria sobre ser grato. Grato a um telefonema, a um sorriso, a uma frase, a um gesto simbólico que seja.
Fosse grato ao tempo que esse seu amigo lhe oferece, seja ele curto ou não. Eu diria para ser grato a todos os momentos que é lembrado, chamado ou convidado por ele.
Diria que não necessariamente precise dizer a ele que reconhece, mas que se posicione de tal maneira.
Diria que jamais, jamais desfizesse do pouco ou muito que ele lhe dá.
Se hoje eu fosse lhe dizer, diria para se posicionar diante da lealdade do outro.
Diante da verdade do outro, que às vezes você mal consegue suportar.
Se eu fosse lhe dizer, lhe lembraria, que muitos podem lhe chamar para a farra, mas poucos, poucos mesmo, irão oferecer sua casa, sua comida, sua companhia para enriquecer o seu dia.
Eu diria a você, que se por algum momento seu amigo não lhe compreendesse e cometesse algum engano, você pudesse pensar sobre o valor dele e falar a respeito.
Falar com ele, claro! E não dele, claro também!
Se eu fosse lhe dizer, lhe daria algumas dicas, que o que lhe incomoda no outro, se fizer presente em ti de forma permanente em formato de sentimentos angustiantes, discursos rancorosos... Nem tanto mais faz juízo ao outro, mas a você.
Diria para se perguntar o porquê que de repente, encontra-se tentando assimilar a atitude, o percurso de um outro sujeito. Onde é que de repente, algo nessa história "pega" em você.
Mas eu também lhe diria que se você cometesse alguma indelicadeza com o mesmo, fosse corajoso e digno o bastante para falar a respeito.
Do contrário, construções muito belas podem ficar para trás. E ambos podem perder com isso.
Ahhhh... Eu diria para você chorar com o outro sim, por que não?
Chorar quando ele estiver triste e de emoção, quando ele mudar de etapa e estiver orgulhoso por isso.
Eu diria a você de uma maneira bem “rasgada” que a amizade é de graça. Não paga nada.
Diria que não são rótulos o que a faz. Nem o tempo, mas uma oferenda, quando nada se pede e quando o mundo parece acabar.
Se eu fosse lhe dizer, poderia até lembrar que as amizades (ou qualquer outra relação) que iniciou-se na infância ou a muitos anos, tem uma natureza diferente da conquista recente, mas que nem por isso ela não possa enriquecer sua vida. Porque tem experiência que não vem para uma vida toda, mas ainda assim, as vezes, em um dia ou por poucas horas, ela lhe pode trazer um saber que lhe marca por uma vida inteira.
Se eu fosse lhe dizer....
Eu diria para aproveitar toda ela.
Miriam Machado (Julho de 2007)
(Tais palavras são para meus amigos saberem (que receberem tais escritas), que do que está escrito aqui , nada lhes servem. Vocês me dão tudo isso, como presentes de bala Chita. Muito provavelmente, durante tal leitura, identificaram-se com tudo ou alguma coisa que eu diria para ser, viver ou oferecer. E como eu bem digo, “eu diria”, mas que nada é para se dizer, porque a amizade é assim, se faz por ser.
E eu?
Sorrio e saboreio-a com infinita alegria todas as formas que vocês oferecem a mim, um tempo em que me encontro amparada.)

(Texto reescrito em 02 de Abril de 2008)
(Texto reescrito em 04 de Fevereiro de 2009)
Miriam Machado

Um comentário:

  1. É muito importante fazer bons amigos na vida, amores vem e vão, mas os verdadeiros amigos ficam guardados na memória para sempre. A particularidade de cada ser faz com que seja único no mundo e assim como você, eu carrego um pouco de excentricidade quando falamos de um determinado assunto e a convergência de pensamentos ocorre naturalmente na descoberta um sobre o outro. A vida nos mostra alguns obstáulos quando desejamos realizar algum sonho ou simplesmente um encontro, mas a determinação sobrepõe todas as dificuldades que de pedras viram pó. A curta distância que separa 2 amigos não quer dizer que me importe menos mas talvez que penso muito em você e deva escrever mais. Parabéns pelo texto e saiba que a considero uma grande pessoa com pensamentos contemporâneos e vitoriosa de várias "guerras". Um bjo bem grande do seu amigo que lhe escreve

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