quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cabernet





Algumas pessoas perguntam-me:

_"Quando foi que isso começou?"
_"Fez algum curso?"
_ "Por que assim, tantos...?".
É, nem sempre conseguimos nos lembrar, quando é que alguma coisa começa ou termina, instante de experimentos... Que bom por não conseguirmos essa reminiscência! Acredito mesmo ser útil tal impossibilidade.
Eu tenho algumas lembranças.. E posso dizer que resisti por muito tempo e diante de diversas oferendas...
Se meu pai me visse hoje, seria um parceiro e tanto por toda essa degustação. Eu gostaria que estivesse, mas como não, me faz bem saber que herdei um tanto disso, dele. Será que começou aí? Vai saber! Talvez o divã favorecesse tal entendimento...
O que eu penso ser mais relevante é: por que o azul e não o verde? Por que o doce e não o salgado? Por que o verão e não o inverno? E mais além... Por que não o azul, o doce e o verão ? E não, o verde, o salgado e o inverno? São combinações, concluí.
No meu caso, não é só o vinho. Ele nunca vem solitário! Chegou-me depois de tanta história... Os experimentos já haviam passado pelos efeitos bombásticos da vodka, pelo grau da breja, pelo afrouxar da cuba, pelos suáveis mas não sem efeitos coquetéis, pelo estimulante whisky... Mas as combinações com tais variáveis não envolveram-me.
Porque tem um "q"de ritual que para cada um faz um sentido, ou não.. Uma emergência que justifica o efeito... Tem o ambiente que estimula ou esmorece. A reciprocidade dos envolvidos... A subjetividade precedente que vai pedir... Uma trama enfim. Um flagrante que vai dizer de si com todas as suas contingências.
Mas vamos lá... Bem no meu particular... Por que o vinho? Quem já escutou "quer vinho, venha!"? (sorrisos) É bem por aí...
Eu posso sim absorver as combinações da química de qualquer manguaça... Com coletivos diversos.... Por um passado, razões anteriores que eu nem mesma me dê conta. Pelo futuro, suas pretensões ou pela falta dela... Pela combinação que me justifica... Pelo meu frio, pelo meu consequente arranjo ou... Doce desarranjo... Pelo meu desejo endereçado, pela causa e efeito, pela provocação de discursos diversos mas conscientes por si só, ou se for o caso, indicando infinitas continuidades. Pelo vermelho sedutor... Pelo seu corpo... E que venha o incorpado! Pelo conhecimento, desde o momento histórico da vinícula. Pelo desfrute da uva por si só. Seus perfumes e suas minúcias que permitem associações. Pela preparação (pré-para-ação, pré-par-ação)....Veja bem... Já não posso dizer se é singular ou plural...
Sempre no inverno.
Sempre no contexto de produção...
Sempre para celebrar.....
Marcar o início e o processo. Porque marca mesmo, como que um perfume! Eu sempre posso me lembrar que vinho tomei, com quem, em que momento. É uma outra referência, que não cabe chegar a um bar qualquer, em uma situação qualquer, na companhia qualquer e se dirigindo ao garçon: _Desce um vinho, aí!
Todo mundo bebe com todo mundo... Mas quem toma vinho, não o faz com todo mundo, apenas por fazer. É preciso o desejo de experimentar com determinada pessoa (s).
O convite tem que existir!
Pelo convite....
Tudo que ele possa significar.
Tem que existir...
Talvez bem se diga assim...Pela existência!
Nada de curso.... Mas percursos... Esses que são do experimento real, concreto, do movimento. Por que tantos? (sorrisos) Porque eu tenho sorte. Eu tenho sorte de conhecer quem me provoque o apetite de fazer essa troca. Porque o vinho é para trocar.... Mesmo que sozinho... (sorrisos) O vinho vai... Independente. Mas quanto a mim? Gosto de experimentá-lo com pessoas... E estas que me provocam sempre estão por aí, aparecendo no meu caminho.
O vinho também tem uma questão com a diversidade. Eu gosto disso.... A cada encomenda, uma nova proposta, nunca o mesmo! E a cada taça, a história já não será a mesma...
Repetir, repetir, repetir.... É um pecado!
Eu nunca sei o que vou sentir com a próxima garrafa.... Mas eu tenho coragem. Talvez... Seja isso também... O novo... Eu sempre desejo experimentar todo este...
A dimensão do vinho não é beber.
É acontecer!
Quando veres a imagem que eu gravo, não pense qualquer coisa do tipo "ela está bebendo".
Não.
Mas fique a vontade para pensar ou dizer:
_Ela está acontecendo!

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Míriam Machado


24-06-2009


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7 comentários:

  1. Ei Minha Prima Querida,
    Concordo com o fato de que tomar vinho tem que ter convite, compania ou companias . Sempre um motivo para estar junto .Aí sim, fica uma delicia.
    Quanto ao texto , ou melhor, aos textos que voce escreve.... estou adorando. Sempre alguma ou várias coisas tem a ver comigo . Faz pensar.
    E alem disso , parabens pela qualidade. Não pare.
    Escreva sempre .
    Beijos da prima que te adora e admira muito.
    Valérinha

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  2. Considere-se convidada! rsrsrsrsrs

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  3. Onde é que eu assino?? rs...
    Concordooo!!
    Bjo!

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  4. Amiga, nunca tomanhos vinho! Ah, não! Somos pessoas especiais!KKKK Bora combinar!

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  5. Oi amiga! Lindo texto!
    Não é em vão que vinho rima com feminino... beijos

    obs: Adorei a foto do fuxico!

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  6. Acho que, nem mesmo a fotografia(e a senhorita bem sabe oq ela representa -me), seria capaz de arrancar-me, tanta emoção e sentimento.Vc é mto sensível, lindona.Um dom nato de Míriam: a sensibilidade...Simplesmente belo...Dia 10 tá aí, bora experimentar essa sensação juntas, não é?

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  7. Gostei... Me deu vontade de saborear um bom vinho enquanto lia.
    Ao ver vc falar de ritual, acabei me lembrando de uma cerveja, rs, a backer medieval, com seu charme e ritual para abrir a garrafa. Beijos! Escreva sempre mesmo!

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