quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Não é a grade.

     Em uma dessas minhas saídas diárias para fotografar... Passei frente a uma casa.... Imagem que segue... Olhei para essa pessoa... E era nítida uma limitação que não vem ao caso descrever. A questão é. Estava sozinha e dessa maneira aí visível. E eu fiquei pensando... Não é a grade que a impede de sair. Pode até ser que a pessoa não tenha a chave, mas pela mesma limitação visível, ficava nítida que a impossibilidade de sair e viver não se restringia ao portão como era nítida também, que ela tinha a necessidade de viver mais... Viver mais pelo fato de estar ali, sozinha, no ponto mais próximo do mundo, da vida, o portão de sua casa.
Lembrei-me de muita gente... Muita gente  distante mas também de gente próxima... Lembrei-me de mim em determinados momentos... Pensei nessas limitações concretas e que muitas vezes usamos como o impedimento.
O impedimento!  : repito.
E fiquei observando que há pessoas que "manuseiam seus braços" como um pedido de socorro. Um manifesto. Podem não conseguir sozinhas, mas manifestam seus desejos. Saiem dos argumentos que os fixam nos lugares cômodos de suas vidas.
Mas há aquelas que não. Justificam-se em limitações cruéis mundanas como a falta de dinheiro ou nas limitações humanas_ tempo.
As limitações cronológicas já estão deixando de ser... Menos mal... Porque hoje, a argumentação dos ponteiros já se tornaram tão primárias e óbvias do que denunciam,  que as próprias pessoas que os dizem, já se condenam no mesmo momento dos seus relatos.
A limitação da cifra ainda camufla a limitação dos sujeitos. O faz tão bem que pessoas tomam tal moeda como parte de si_ um membro: "_Não posso, não tenho dinheiro."como se dissessem: "Não posso, não tenho olhos!", "Não posso, não tenho pernas!", "Não posso, não tenho mãos!", "Não posso, não tenho voz!".
Cada um com sua história, quem sabe se haverá um dia em que  constatarão, que toda experiência externa justifica ele_sujeito, mas que o sujeito se dirá através das experiências externas?
Quem sabe se defronte a tal "visão" tornará-se possível então o movimento...?
É claro que estou me referindo aos neuróticos, pessoas tidas como "normais". Porque os sujeitos perversos, é claro, estes não podem ser ajudados por ninguém melhor do que eles mesmos. São vitimados e infelizes,  culpa das  pessoas próximas, do mundo e, visto que eles não têm falta, são seres dotados de razão.
Mas para aqueles que admitem suas faltas, estes podem perdir ajuda... Que pode ser no mínimo algo assim... Apenas os braços para fora.. Pode ser assim, como aqueles bonecos de postos de gasolinas que ficam balançando os braços, porque o negócio é dizer de alguma maneira! Pode ser assim, aproximar-se de alguém que você acredite e que tenha idéias bacanas... Pode ser procurar alguém neutro, sem afetos agarrados por ti,  desnudos de opiniões de senso comum para lhe acrescentar, fazer escutar  e que serão uma referência concreta de que não é a grade....
De que não é a grade!
Em função desses portões que as pessoas se fixam vê-se a  comodidade_ porque se não fosse cômodo, seriam capazes de qualquer coisa para sair, para continuar uma propriedade possível.
Lembrei-me latentemente de pessoas fantásticas que ainda não se despertaram ao fato  de que a vida pode ser mais do que elas conseguem.. Com-seguem. E desejei por elas que elas desejassem mais.
Lembrei-me também fixamente de outras pessoas fantásticas que se despertaram... E estas, já sabem que estou feliz por elas, porque eu sempre as conto. E quanto as mesmas, eu já nem preciso desejar, porque elas já fazem por si próprias...
Talvez a imagem e nem tanto as minhas palavras possa propôr alguma questão_ pergunta.
O que revelam os argumentos que você usa para viver ou não, uma certa experiência...
Revelam a grade?
Ou será que revelam uma limitação_acomodação? A-como-d-ação_comem seus atos_devoradores de suas próprias vidas? Afinal, quem nunca escutou: "Eu não faço mal a ninguém, eu só faço mal a mim mesmo!"



Míriam Machado
26 de Agosto de 2010

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